Release por Matheus Schlittler

Essa é uma carta de amor.
Belo Horizonte, 7 de agosto de 2020

“Embate” é o nome desse lançamento da Remédio Sem Causa. Como todo release dessa banda que eu escrevo, sempre entro em um pensamento carregado de nostalgia, pelos momentos que tive e tenho com eles. Tentei resumir tudo que passou pela minha cabeça por esses dias nessas palavras que se tornaram o texto a seguir.
Existe algo de diferente em amigos que conhecemos pela música. Ainda mais quando a gente pensa em uma “cena” na qual fazemos parte: a gente acha tanta coisa em comum, gostos parecidos e características similares que às vezes parece até um experimento social conviver com pessoas desse meio, me ajudando a enxergar um pouco quem eu sou.
Com o surgimento da Salitre Records, o primeiro selo no qual me aproximei foi justamente a Rapadura, através da Ju Trevisan, amiga que tenho extremo carinho. Ju é uma espécie de “membro secreto” da Remédio Sem Causa (na época, Rebelde Sem Calça, formada por Igor Monteiro na voz e na guitarra, Vinicius Batista no baixo e nos backing vocals e Giovane Dâmaso na bateria e no senso de humor secreto), fazendo uns registros magníficos dos shows e da história da banda.
E o mais curioso disso tudo é que a Remédio me faz sentir assim: talvez em um antro de catalogar as músicas pela Salitre, incentivando tudo que a Rapadura faz, acho que, além de termos nos transformado quase que “selos irmãos”, fez eu me sentir como se fosse um membro easter egg da Remédio. Não por mérito meu, mas mais por uma vontade que eu tenho e da questão que eu faço de acompanhar tudo que eles fazem, uma espécie de relação Guy Picciotto - Fugazi antes do ex-vocalista do Rites of Spring entrar na banda. Uma admiração que eu não consigo colocar em palavras - um dos poucos sentimentos que tenho essa barreira, que eu acredito ganhar uma magia por trás disso tudo.
E a Remédio tá aqui, lançando mais um single, “Embate”. Como sempre, se inovando, vindo desde os primórdios do punk irônico pra um hardcore flertando com rock alternativo dos anos 80 com letras sérias. E a gente tem Embate nas mãos. Uma música essencial pra esse momento bizarro que a gente vive, trazendo um cunho existencial sobre o egoísmo e a apatia inerente de uma sociedade moderna, resgatando uma ideia de um protesto em um som meio punk meio emo que resulta no que tem de melhor nessa banda.
“Embate”, como toda a discografia até o momento da Remédio, traz toda a energia que me faz lembrar que estou vivendo esse momento na história da música independente mineira: um tempo socialmente difícil que resulta em uma música que nos faz sentir pertencer. É música de externalizar a revolta, mas da forma mais bela através de uma melodia cativante.